quarta-feira, 18 de julho de 2007

Uma questão de toque

Aí é quando você percebe que é tudo uma questão de toque. Tudo é uma questão não do que se fala, mas como se fala. Não se é importante para o outro, mas se seus olhos dizem que é importante pra você. Não é uma questão racional: é tudo toque, feeling, jeitinho de dizer e de fazer. É o que você diz sem falar.

Uma pesquisa encomendada por um programa de linguagem corporal disse que o que você está dizendo corresponde a apenas 7% do impacto sobre o interlocutor. O mais importante é o modo como você se mexe, o que faz com as mãos, o jeito que olha para o interlocutor, o tom de voz. Isso - e não o conteúdo dito - é o que atrai a atenção do outro.

Daí as pessoas se perguntam como, por exemplo, Hitler chegou ao poder com todo aquele apoio popular. Mesmo com as condições político-sócio-econômicas, como o país humilhado e arruinado, e o rancor contra os comunistas, a maioria das pessoas repudiaria causar um genocídio. Hitler chegou no momento certo, fomentou o sentimento certo (para ele), levantou a moral de seu povo e apoiou medidas sociais. Ele era uma ator, um artista. Ele tinha carisma, tinha toque. Logo, tudo o que ele falava fazia sentido. Os judeus não seguem a moral cristã, os judeus são ricos e mesquinhos e párias, que abandonaram a terra onde foram acolhidos para ajudar estrangeiros na Primeira Guerra. Então que eles morram! Somos uma raça pura, somos superiores. Ler isso e aceitar é absurdo hoje - mas engolimos mentiras e verdades todos os dias de pessoas que saber convencer, e elas não precisam ser Hitler.

Daí as pessoas se perguntam como, por exemplo, elegemos ladrões para nos governar. Ou como a figura de Jesus se tornou tão popular. Ou como as pessoas são loucas pela Madonna!! É toque, é feeling, é saber o que dizer e o que fazer na hora certa, mesmo sem palavras. Não importa que saibamos que isso é irracional, que é errado, que é uma pessoa má ou uma má idéia. É preciso muita força de vontade para resistir a um carisma forte sem se arrepender porque "todo mundo vai".

No fim, é tudo saber dizer, e não o que se fala. Quando descobri isso, fiquei zangada e desapontada. Não importa quão certa eu esteja - o importante é a arte de saber convencer. Mentiras muitas vezes repetidas tornam-se verdade, diz o tolo, e se proclamando sábio ganha um trono de ouro.

Foi aí que comecei a discursar para o espelho.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei! Mas eu não consigo menosprezar o poder do discurso. Pessoas que falam bem (e eu, você e Rafa sabemos bem disso). Mesmo quando não apelam para o carisma são extremamente convincentes.

Anônimo disse...

Eu sei que aquele "." não deveria estar ali, mas simplesmente não visualizo meus textos na net antes de postá-los :P.

Mariá disse...

Argumentos são úteis, mas tentar vencer uma discussão apenas por eles não adianta. Numa briga, por exemplo, se você gritar e falar alto não convence muito por mais certo que esteja, se estiver contra alguém mais controlado. Você sabe que já senti isso na pele ^^'

Por isso que odiei saber disso.